Arquibancadas são tipos de
estruturas concebidas para prover assentos em degraus e estão disponíveis em
vários tamanhos e configurações. O tipo e número de componentes de uma
arquibancada vão depender da atividade, espaço requerido, número de espectadores
e recursos financeiros disponíveis.
Classificação das arquibancadas:
- permanentes ou estacionárias: tipicamente grandes, são unidades que permanecerão na mesma localidade durante a vida da instalação, por isso são normalmente ancoradas ao solo;
- portáteis ou móveis: são unidades menores e construídas com materiais leves. Devem possuir deslizadores ou sistema de rodas que as tornam fáceis de serem deslocadas para qualquer lado.
- telescópicas ou retráteis: são tipicamente encontradas em ginásios onde os espaços são reduzidos. Essas arquibancadas podem estar tanto embutidas quanto abertas para acomodar espectadores. Quando fechadas, esse tipo de sistema toma relativamente pouco espaço e podem funcionar como eventuais divisores de espaços.
- Temporárias: são tipicamente armazenadas em módulos ou seções e montadas juntas para utilização durante eventos especiais (torneios de golfe, paradas ou desfiles, circos, inaugurações). Após o evento, as arquibancadas são então desmontadas e armazenadas até quando se tornarem novamente necessárias.
No geral, as arquibancadas são compostas por: apoio
para os pés, assentos, degraus e guarda-corpos, mais conhecidos como corrimões.
Usados por razões de segurança, os corrimões proporcionam mais estabilidade ao
entrar e sair das arquibancadas. Devem ser leves para facilidade de montagem e
desmontagem, contudo fortes o suficiente para proporcionar adequado apoio. Os corrimões
ou guarda-corpos devem se estender 1,0 metro acima da superfície mais baixa do
degrau de acesso dos componentes da arquibancada (apoio para os pés, assentos,
corredor).
Inclinação: uma questão de visão e conforto
Mais do que comportar pessoas, a função da
arquibancada é garantir uma boa visibilidade do evento para o público presente.
Para alcançar tal objetivo, cuidados com a inclinação são indispensáveis.
No geral, é recomendável que a inclinação não
ultrapasse 35 graus. Em casos extremos, em que medidas de segurança devem ser
reforçadas, ela pode chegar a 45 graus. A medida pode mudar de acordo com o
perfil retilíneo, mas os degraus devem ser sempre uniformes: a altura costuma
variar de 25 cm para baixo e 45 para cima.
A
cada 25 degraus, o perfil retilíneo é mantido. Para cada setor de perfil
retilíneo, as dimensões em corte dos degraus estão ligadas pela relação:
h : altura do degrau de um setor com inclinação uniforme
c : elevação do raio visual
l : profundidade do degrau
n : número de fileiras de um setor
H : altura do olho do primeiro espectador do setor
D : distância horizontal entre o olho do primeiro espectador e o ponto observado
c : elevação do raio visual
l : profundidade do degrau
n : número de fileiras de um setor
H : altura do olho do primeiro espectador do setor
D : distância horizontal entre o olho do primeiro espectador e o ponto observado
Visibilidade
No caso de arquibancadas ao ar livre, é
necessário prever maior distância entre a área de jogo e a zona da
arquibancada. Além disso, admite-se geralmente considerar como ponto a ser
observado não a linha de toque (ponto de visada no solo), mas uma linha situada
sobre sua vertical e a 1 m de altura. Para estádios de futebol a FIFA recomenda
por questões de segurança, principalmente visando evitar invasões ao campo, a
elevação da arquibancada em relação ao gramado ou a construção de fossos.
No caso de ginásios, a regra é outra: para manter uma visibilidade
perfeita e sem ultrapassar os limites de tamanho propostos, a primeira fileira
da arquibancada não é elevada havendo geralmente apenas um recuo relacionado à
área de escape do campo de jogo.
A visibilidade é limitada pelo raio visual tangente
ao topo da cabeça do espectador sentado à sua frente, conforme explica a
arquiteta e estudiosa de tecnologia e gestão de estádios esportivos Lilian de
Oliveira: “essa curva de visibilidade é o traçado do olhar do torcedor até a
linha do campo. Não havendo barreiras (nem arquitetônicas nem de outros
torcedores) a curva está adequada”. Para garantir essa adequação é importante
considerar alguns aspectos:
·
- Reserva-se normalmente de 45 a 55 cm de largura por espectador;
- A profundidade de cada fileira é de 70 a 80 cm (35 cm de espaço de circulação na frente do assento);
- A altura de uma pessoa do olho ao piso é em torno de 1.20 m;
- Considera-se c = 10 cm, a medida entre os olhos e o topo da cabeça (sem chapéu);
- A altura dos assentos é de 45 cm até o plano onde repousa os pés dos espectadores;
- Se admitirmos que os espectadores veem a cabeça das pessoas da fileira inferior, c pode ser reduzido a 7 cm.Contudo, esta norma não é geralmente adaptável ao espetáculo esportivo porque na realidade o olhar do espectador se desloca pelo terreno horizontalmente.
Além das questões de inclinação, outros fatores devem respeitar os cálculos de visibilidade, tais como telões, placares eletrônicos e placas de publicidade. Para estas, a FIFA recomenda que, quando instaladas em estádios de futebol, as placas tenham no máximo um metro de altura.
Estrutura
A solução da arquibancada em superestrutura é a
mais frequentemente utilizada. Torna-se mais econômica caso o terreno esteja
situado numa depressão ou contra um talude. Pode-se implantar uma parte ou a
totalidade dos degraus sobre a inclinação natural do terreno, ou mesmo, em
alguns casos, criar um aterro a fim de posicionar os degraus. Esta solução
exclui definitivamente qualquer utilização do espaço situado sob as
arquibancadas.
O material a ser escolhido depende de alguns
fatores, tais como capacidade de espectadores, uso previsto para a estrutura,
disponibilidade de fundos, condições climáticas e qualidade estética.
Para estruturas permanentes e aproveitamento do
espaço para usos diversos, utiliza-se normalmente o concreto, enquanto que
as estruturas metálicas são amplamente usadas em estruturas temporárias
devido à versatilidade, modulação, facilidade de transporte, velocidade
de montagem e portabilidade (remontagem em outros locais). Se
serviços e outras facilidades forem inclusos sob a arquibancada,
uma sólida, contínua e impermeável superfície de metal ou concreto será
necessária.
“No Brasil, vemos
estruturas em concreto armado, pela tradição da arquitetura brasileira. No
entanto podemos ver fora do país em estruturas metálicas, que tornam a
construção mais rápida, e, a longo prazo, mais econômica”, explica a arquiteta.
Acessibilidade
A acessibilidade do espaço não se diz só a entrar
ou sair de um estádio; envolve todo o deslocamento por ele. Sendo assim, é
indispensável investir na sinalização de escadarias, portões, corredores,
banheiros, entre outros, e essa sinalização deve ficar em lugares visíveis
(principalmente para quem vê da entrada do estádio e das arquibancadas), e
livre de obstáculos. Vê-se aí também a importância em se manter uma distância
transitável entre as fileiras de assentos.
Os acessos devem ser diversificados: grande
público, imprensa, autoridades e camarotes devem ser separados, principalmente
por questões de segurança.
Além disso, é preciso atentar-se ao acesso e
circulação de portadores de deficiência. É indispensável construir rampas e
sanitários adaptados a cadeirantes, além de criar serviços de apoio a esse
público. Portadores de deficiência também devem ter entrada exclusiva, com
fácil acesso às áreas adaptadas. Recomenda-se também que cada vaga de
cadeirante tenha um assento para acompanhante e tomadas de energia para a
conexão de aparelhos eletrônicos. Todos esses cuidados são fundamentais para
tornar estádios, arenas e ginásios espaços ainda mais democráticos.
Cobertura
Ginásios esportivos costumam ser cobertos, mas arenas e estádios nem sempre
recebem cobertura. A FIFA considera a estrutura desejável em locais com alta
incidência de sol e de climas frio ou úmido. No Brasil, um país de clima
predominantemente tropical, com um índice pluviométrico e incidência solar
consideráveis, o investimento em cobertura é recomendável para melhor garantir
o conforto do público presente.
A cobertura pode, então, ser total ou parcial,
dependendo das condições locais. A FIFA exige que as partidas da Copa do Mundo
sejam jogadas em arenas com toda a área da torcida coberta.
Para a construção da cobertura, deve-se tomar
cuidado para que nenhum pilar de sustentação da cobertura prejudique a visão
dos espectadores. É preciso também que a cobertura seja elevada ao máximo nos
estádios de grande capacidade. Soluções mais complexas são às vezes necessárias
para as grandes instalações em que se cogita construir um ou vários níveis.
Outro cuidado é a escolha do material: este deve
proporcionar incidência de luz e ventilação adequada, além de uma acústica
razoável. Para a estrutura da cobertura, costuma-se utilizar madeira laminada,
vigas metálicas ou concreto (em geral protendido).
A nova tendência desse tipo de estrutura é a versão
retrátil, ou seja, é poder optar entre cobrir ou não o espaço, seja da arquibancada
como também do gramado. Dentre as técnicas para esse tipo de construção, a mais
utilizada é o uso de cabos tensionados. Tal opção se dá principalmente pela
capacidade da estrutura em vencer grandes vão. Outras opções são painéis de aço
(que se deslocam por trilhos ou rodas), como no estádio de beisebol do Blue
Jays, em Toronto, Canadá e do time de basebol Mariners, em Seatle, Estados
Unidos. Atualmente, no Brasil, ainda não há nenhum estádio com esse tipo de
tecnologia construída, mas a aplicação já está em estudo. Para a Copa de 2014,
por exemplo, o projeto da reforma do Estádio Mané Garrincha inclui a construção
de cobertura retrátil.
Para a membrana que compõe a cobertura, o material
pode variar: tecidos de diferentes especificações, policarbonato e até mesmo
vidro. A escolha depende do critério determinante: estética, peso, entre
outros. Outro ponto que deve ser previsto no projeto construtivo da cobertura é
o cuidado o direcionamento da água da chuva. Planejar a coleta e esgotamento
das águas ajuda a evitar que a torcida seja inundada durante os eventos
chuvosos.
Arquibancada retrátil
Outra novidade para a construção de espaços
esportivos é a arquibancada retrátil. A ideia é ter a opção de montar e
desmontar a estrutura, conforme a necessidade: “é a solução mais moderna e
racional quando se deseja versatilidade de usos para os espaços disponíveis”,
explica o engenheiro Fernando Telles, especialista em instalações esportivas.
A aplicação é fruto do ideal de arena multiuso que
vem sendo disseminado pelo mundo afora, em que um único espaço possa abrigar
mais de um esporte ou até mesmo ser adaptado para um evento não esportivo.
Esse modelo de arquibancada pode ser construído em
diversos materiais e até mesmo combinando esses: estrutura metálica, madeira,
fibra de vidro ou carbono. A arquibancada retrátil pode ter até 20 degraus,
sendo que cada um deles pode comportar de 7 a 10 pessoas.
Esse tipo de arquibancada é comum em ginásios americanos,
mas podem ser usadas em espaços maiores. Apesar de poder envolver diversos
tipos de materiais, o mais tradicional nesse tipo de construção são estruturas
metálicas com perfis de chapa dobrada e tubos em sua estrutura, sendo que o
piso é de madeira compensada.
Também chamada de telescópicas, esse tipo de
arquibancada deve ter um sistema de rodas para prevenir danos à superfície do
piso. Em acréscimo, esse sistema será mais bem utilizado se o mesmo for
automatizado. Sistemas elétricos permitem às arquibancadas telescópicas abrirem
ou fecharem por meio de uma chave. Esse tipo de sistema permite ao usuário
abrir total ou parcialmente uma seção de arquibancada sem que a seção saia do
alinhamento ou se danifique. Para arquibancadas já instaladas e que não possuam
sistema automático, existem equipamentos elétricos portáteis que podem ser
facilmente manejados para o conveniente deslocamento das mesmas.
O sistema automático oferece ao usuário:
- a facilidade de abrir e fechar os sistemas de arquibancadas rápida e corretamente;
- dispensa ou reduz custos de manutenção;
- soluciona o problema de danos devido a operação manual;
- evita operação manual por pessoal não autorizado.
No Brasil esse modelo de arquibancada foi utilizado
na Arena do Pan, em 2007, no Rio de Janeiro. A estrutura foi desenvolvida pela
empresa Lao Engenharia, e adicionada às arquibancadas já existentes.
Embaixo das arquibancadas
Retrátil ou não, a discussão atual sobre
arquibancada é outra. O que fazer com o espaço embaixo delas? A proposta que
está em pauta é a de aproveitamento desse espaço para outras finalidades, tais
como instalações de cafés, lanchonetes, lan houses, além de estruturas para
outros esportes que não exigem grandes áreas para prática. O engenheiro
Fernando Telles defende a proposta: “sou totalmente a favor do uso sob as
arquibancadas, principalmente para espaços destinados
à armazenagem de materiais esportivos e de manutenção das
instalações.”
A ideia vem ao encontro da tendência de arenas
multiuso, e talvez ajude a justificar o investimento astronômico que a
construção de arenas envolve, principalmente quando envolve os estádios sede de
Copas do Mundo.
Fonte: Met@lica