Pressionadas por atrasos nas entregas de empreendimentos e pelo crescimento de ações trabalhistas, as construtoras têm aumentado a contratação de trabalhadores próprios nos canteiros e reduzido a terceirização.
Essa reestruturação é viabilizada pelo aquecimento do mercado. "O crescimento deu condições para manter o funcionário interno. Hoje é possível mandar o operário de uma obra para a outra", diz Haruo Ishikawa, vice-presidente de relações capital-trabalho do SindusCon-SP.
A Tecnisa é uma das empresas que têm seguido o movimento. O percentual de trabalhadores próprios nas obras subiu de 40%, em 2010, para 50% em 2011.
Já a Odebrecht tem cerca de 70% de funcionários diretos na obra do estádio do Corinthians, em São Paulo.
"O gasto tende a crescer ao internalizar a mão de obra. Porém a conta fecha porque o risco de ações trabalhistas e atrasos é maior [com as terceirizadas]", diz Marcello Zappia, diretor de Recursos Humanos da Tecnisa.
A alta no custo da mão de obra foi de 10,2% nos últimos 12 meses, segundo dados da FGV.
As ações trabalhistas também têm grande peso para o setor. As construtoras respondem solidariamente na Justiça pelas empresas terceirizadas. Assim, quando a prestadora de serviço não quita o débito, é acionada.
"Se o funcionário é nosso, estamos certos de que encargos e impostos estão sendo recolhidos corretamente."
Planejamento
Outro estímulo para a contratação direta é a possibilidade de planejar o uso da mão de obra. A Hochtief do Brasil, com sede em São Paulo, vai iniciar no segundo semestre uma obra no Rio com mais de 500 operários e planeja deslocar funcionários.
"Vou ter muita dificuldade de conseguir esse número de terceirizados lá, onde o mercado está muito aquecido", diz André Glogowsky, presidente do conselho de administração da empresa.
A construtora vai optar pela contratação direta para evitar multas por atraso.
"O serviço interno permite que a empresa tenha maior domínio sobre o processo e administre melhor os prazos", afirma Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção da FGV.
As queixas contra construtoras em São Paulo cresceram 153% entre 2008 e 2011, segundo o Procon-SP. A maioria das reclamações é relacionada a atrasos na entrega.
A qualidade é outro ponto sensível no setor. Como muitas prestadoras lucram pelo volume de trabalho, algumas não entregam o serviço conforme o esperado.
Esse é um dos motivos que fizeram a WTorre Engenharia optar pelas terceirizadas só para a execução de serviços especializados, que não podem ser feitos internamente (como fundação do terreno e impermeabilização).
"Quando contrato um operário, ele fica em período de teste antes. Depois, pode ser treinado e, dessa forma, aumento a produtividade", diz Sérgio Lindenberg, diretor-superintendente da empresa.
Fonte: Folha de São Paulo