O boom de vendas de imóveis novos nos últimos anos já se reflete nos financiamentos imobiliários. A participação dessas unidades chegou a 38% dos empréstimos feitos no primeiro semestre com recursos da poupança.
A fatia não chegava nem a um quarto do montante em 2007, de acordo com os dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).
Na opinião do presidente da entidade, Octavio de Lazari Junior, esse patamar deve subir ainda mais até o próximo ano, já que é decorrente principalmente dos lançamentos em 2009 e em 2010.
Depois, com o mercado menos aquecido, o ritmo de unidades novas postas à venda recuou. Por isso, a avaliação do executivo é que a participação no crédito também caia e se estabilize em um nível pouco acima dos 30%.
"Foi um freio de arrumação saudável [nas construtoras] para que o mercado possa continuar crescendo de forma sustentável."
O advogado Marcus Vinicius Braga, 41, comprou o primeiro imóvel há três anos, na planta, e está recebendo as chaves neste mês, quando deixará de pagar à construtora para se tornar cliente da Caixa Econômica Federal.
Na época, diz, não poderia comprar uma moradia usada porque não tinha dinheiro guardado suficiente para dar de entrada. Com a opção pelo lançamento, pagou à construtora em parcelas e prestações intercaladas o equivalente a 30% do valor do imóvel. O restante será financiado pelo banco em 20 anos.
Braga mora atualmente no apartamento do pai e diz que, se tivesse de pagar aluguel ao mesmo tempo, não teria conseguido arcar com as duas despesas.
Outro dado da Abecip aponta a desaceleração no segmento de novos. No primeiro semestre, a quantidade de financiamentos para a construção teve redução de 28% no comparativo com igual intervalo no ano passado. Já para a aquisição, houve acréscimo de 7,9%.
Para a economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ana Maria Castelo, "ainda há muito espaço para o financiamento imobiliário crescer, mas não haverá mais saltos".
Atrasos nas obras
O número de atendimentos com relação ao descumprimento de contratos assinados com as construtoras no Procon-SP, ligado à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado, vem crescendo desde o boom no mercado imobiliário. A maioria das consultas se refere ao atraso nas obras.
A orientação do órgão é não aceitar cláusulas que permitam o atraso na entrega sem ônus para a empresa.
Como destaca Selma do Amaral, diretora de atendimento do órgão, o cliente não tem direito a um período de tolerância, tendo de arcar com um custo extra se ficar inadimplente.
Mesmo em contratos já firmados, acrescenta, essa cláusula pode ser considerada abusiva por colocar o consumidor em uma situação de desvantagem.
Eduardo Zaidan, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), afirma que os atrasos vão diminuir, pois as empresas "estão mais preparadas [para atender a demanda], deram um salto de produtividade". Para ele, as construtoras e incorporadoras são "as maiores prejudicadas, porque têm prejuízo financeiro e da imagem".
Fonte: Folha de São Paulo