19 agosto 2013

Arquitetura, urbanismo e educação juntos na luta contra a violência urbana

É alarmante o aumento da violência no País e no mundo. Recentemente entre tantos casos divulgados pela imprensa, a briga entre vizinhos em um condomínio de luxo em São Paulo, resultou na morte trágica de três pessoas, todas de classe média alta e realizadas profissionalmente. Indagamos quais motivos levaram a esta tragédia.

Na condição de urbanista, vejo que o processo de urbanização, na maioria dos países em desenvolvimento, vem ocorrendo de maneira muito rápida e desordenada, gerando problemas sociais e desequilíbrios ambientais, principalmente, nas médias e grandes cidades. Atualmente, as cidades ocupam somente 2% da superfície da terra, mas consomem 75% dos seus recursos. O espaço urbano exerce grande atração sobre as pessoas, transformando-se no local preferencial para a vida em sociedade. Esta atratividade faz com que a taxa de urbanização do planeta já ultrapasse os 50%. No Brasil, este índice ultrapassa os 70%.

A terra é hoje povoada de forma amontoada. Os homens estão cada vez mais desarraigados, a cidade e o campo estão cada vez mais dissociados. Antes as cidades eram compostas de bairros, onde as pessoas se conheciam. Hoje há o anonimato. Tira-se da cidade a “calçada” que é a vida da cidade e assim as cidades constituem hoje um dos maiores exemplos da degradação ambiental do planeta. Esta degradação está colocando em risco a qualidade de vida da população e a segurança das mesmas, constituindo-se deste modo um palco para os conflitos sócios ambientais, onde a violência impera. Em futuro próximo, praticamente todo o crescimento da população mundial ocorrerá em áreas urbanas. Entre 2000 e 2030, há expectativa de que a população mundial urbana aumente em 2,1 bilhões de habitantes.

Em médio prazo, toda a população humana se concentrará no ambiente urbano. O estudo da violência, portanto não pode se desvencilhar do planejamento urbano, cidades mal organizadas e mal planejadas geram de aumento da violência e da criminalidade. As cidades têm três funções urbanísticas que mal definidas podem gerar conseqüências negativas:
  • O congestionamento do trânsito (função urbanística da circulação).
  • A inexistência de áreas adequadas ao lazer (função urbanística da recreação),
  • A intranquilidade do repouso dos seus moradores (função urbanística da residência),
  • A inexistência de espaços de trabalho dignos para todos os cidadãos (função urbanística do trabalho).
Todas essas disfunções são formas de desrespeito às funções urbanísticas que geram conseqüências nos índices de violência. A ausência de planejamento urbano municipal, cujo intuito é garantir as funções da sociedade urbana (a de circular, a de habitar,a de trabalhar e a de lazer), constitui, atualmente, uma das maiores causas da violência urbana. Devem-se, portanto, instituir políticas públicas com o intuito de garantia das funções sociais da cidade e da diminuição/prevenção da violência urbana.

Desde a Idade Média já se construíam as muralhas e fossos ao redor dos castelos para se proteger do inimigo. Hoje a situação continua a mesma e com maior intensidade. Muros, cercas elétricas, grades e a construção de condomínios fechados são interferências urbanas que o medo da violência provoca na paisagem urbana.

Um importante passo para diminuir a violência seria utilizar a arquitetura e o urbanismo para melhorar a vivência urbana, diminuir a segregação sócio econômica e espacial e melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, elaborando projetos de intervenção social e revitalização de áreas públicas de lazer e cultura que resgatam a identidade cultural de uma determinada região. 
A visão capitalista evita o coletivo e prega que tudo deve ser particular, privado e individual forjou o sujeito e as cidades arrogantes e egoístas. A ausência de espaços públicos agradáveis, por exemplo, impede que as pessoas convivam, transformando a violência em linguagem recorrente para a solução dos problemas.

Aliado a um planejamento urbano adequado a melhoria da educação formal é outro ingrediente contra a violência. O poder público tem que se empenhar em aumentar a matrícula, reduzir a evasão e, através do treinamento para os professores, oferecer melhor qualidade de ensino e de salário.

Bogotá é um exemplo, na América Latina, da idéia de Cidade Educadora, segundo a qual todos os serviços públicos e privados da cidade devem estar conectados às escolas. Os projetos urbanísticos recuperaram a região central de Bogotá, tão deteriorada como as das grandes cidades brasileiras e isso atraiu mais pessoas para as ruas. Praças foram criadas ou reformadas. Aos domingos, as principais vias são fechadas ao trânsito, agora exclusivas para pedestres e ciclistas. Em Bogotá a concentração de violência se repetia num bairro com o sugestivo nome de Cartucho, a versão ainda mais piorada da Cracolândia, em São Paulo. O poder municipal então transformou toda aquela área em um imenso parque e tratou de encaminhar seus moradores para outros locais. Para preencher essas regiões recuperadas, a prefeitura decidiu promover constantes shows de música, entre várias outras ações culturais como festivais de teatro e de dança. Os efeitos dessas iniciativas eram vistos no surgimento de uma nova vida noturna, antes limitada porque as famílias tinham medo de sair de casa.

O centro histórico de Goiânia já está convivendo com este problema, é visível o aumento de pessoas marginalizadas, sem tetos, e drogados. E o pior ,vemos estarrecidos as tradicionais escolas públicas centrais sendo abandonadas (tais como o Brasil Central, Liceu de Goiânia, Rui Barbosa , entre outros) que poderiam retomar as suas condições de formadoras da educação integral a população marginalizada. É preciso uma ação imediata, de apoio, tratamento e educação para estas pessoas aliado a revitalização urbana destes espaços centrais reintegrando-os ao convívio da população.

* Garibaldi Rizzo, arquiteto e urbanista. Presidente do Sindicato de Arquitetos e Urbanistas de Goiás

Fonte: Obra24horas