Na capital paulista, Obrist, que atualmente é curador da Serpentine Gallery de Londres e foi eleito em 2010 o nome mais poderoso do mundo das artes pela publicação especializada inglesa “Art Review”, escolheu uma construção que é considerada um ícone entre amantes e profissionais das artes e da arquitetura: a Casa de Vidro, projetada em 1950 pela arquiteta italiana Lina Bo Bardi, que ali viveu e trabalhou por quase toda sua vida. A exposição foi organizada em parceria com o Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi, e o retorno do público brasileiro foi animador.
Complementação artística concebida por Obrist para a Casa de Vidro, a exposição “O Interior está no Exterior” foi encerrada em 30 de maio após oito meses de uma exibição que atraiu, segundo seus organizadores, cerca de cinco mil visitantes. A casa-museu paulistana, construída de forma a interagir com a Mata Atlântica que a rodeia, abrigou uma exposição que foi montada progressivamente, com a inclusão gradual das obras de 34 artistas internacionais e brasileiros. Segundo o curador suíço, “todos, de alguma forma, ligados ao universo criativo de Lina Bo Bardi”.
Na primeira parte da exposição, batizada como “Prelúdio”, a Casa de Vidro recebeu obras dos artistas Gilbert & George, Douglas Gordon, Kazuyo Sejima, Alexander Calder, Cildo Meirelles, Waltercio Caldas, Paulo Mendes da Rocha e Cinthia Marcelle, entre outros. Ao longo dos meses, foram acrescentadas obras dos artistas Norman Foster, Pablo León de la Barra, Koo-Jeong-a, Olafur Eliasson, Dominique Gonzales-Foerster, Ernesto Neto e Renata Lucas, entre outros.
Uma parte da exposição foi montada no SESC Pompéia, edifício projetado por Lina Bo Bardi, assim como o Museu de Arte de São Paulo (MASP), considerado a sua maior obra. O SESC Pompéia recebeu obras e instalações de Dan Graham, Adrian Villar Rojas, Pedro Barateiro, Ernesto Neto e José Celso Martinez Corrêa.
A presença dos artistas que visitaram a Casa de Vidro nesses oito meses foi uma atração à parte no projeto imaginado por Obrist. Os visitantes que mais chamaram a atenção da imprensa brasileira foram o italiano Gilbert Proesch e o inglês George Passmore, mais conhecidos como a dupla Gilbert & George, que fez enorme sucesso no Brasil há 32 anos, durante a 16ª Bienal de São Paulo, com suas performances e esculturas vivas.
Em entrevista ao site Blouin Artinfo, especializado em arte, Obrist explica o conceito de seu trabalho: “Em primeiro lugar, quando uma exposição acontece em um espaço doméstico, a escala é muito diferente e produz trabalhos muito mais íntimos. Não é que os artistas trazem trabalhos para decorar a casa, mas eles trabalham no contexto que acreditam ser necessário. Muitos desses trabalhos são intervenções contextuais. Eles acrescentam uma outra camada”, diz.
Arte na cozinha
Hans Ulrich Obrist começou a ganhar fama há pouco mais de 20 anos, graças a uma exposição que montou na cozinha de sua casa em Zurique. Batizada como “Sopa do Mundo”, a original e então inédita exposição reunia obras dos artistas suíços Fischli & Weiss e do francês Christian Boltanski: “Interagir com as casas pode ser um exercício muito estimulante para o artista. É interessante para o artista poder mostrar sua obra em um contexto bem específico e pouco usual”, diz o curador suíço.
Ele se recorda do início da carreira: “De alguma forma, é preciso que haja experiências diferentes ou espaços diferentes. A experiência que eu tive no começo na cozinha não deve ser perdida. Todas as minhas experiências seguintes estão sempre se conectando com a primeira exposição de alguma forma”.
Arquitetura
Uma das metas da obra de Obrist é mesclar arte e arquitetura, como o curador suíço vem fazendo na Casa de Vidro em São Paulo: “Arte e arquitetura são dois mundos diferentes, embora muito conectados. A conexão sempre houve nessa casa, por motivos óbvios: era a casa de um diretor de museu, vinham artistas, escritores também, é fascinante que todas essas disciplinas tenham interagido aqui”.
Lina Bo Bardi, na opinião do suíço, que a define como “a arquiteta dos artistas”, é a mais perfeita tradução da união entre os dois campos criativos: “Um exemplo disso é que na Casa de Vidro existem mais de dez mil itens colecionados por Lina, como quadros, desenhos, fotos, joias e móveis”, diz.
O suíço ressalta o conceito de imaterialidade que permeia a obra de Lina Bo Bardi e tem grande influência tanto na arte quanto na arquitetura contemporânea: “A Casa de Vidro tem algo extremamente físico, mas que flerta com a imaterialidade, define a gravidade. Isso serve de inspiração atualmente para muitos arquitetos. A busca por tornar a arquitetura mais leve tem total sintonia com a indefinição dos espaços, com o dentro e fora que vemos na casa”, diz.
Fonte: Obra24horas

